sábado, 13 de junho de 2009

PARATY

"O primeiro amor passou
O segundo amor passou
O terceiro amor passou
Mas o coração continua".
"Antologia poética", de Carlos Drummond de Andrade


Planear FLIP (1 a 5.07.2009),
Fazer as malas,
Partir,
Sempre renovada esperança de dias melhores!


http://www.flip.org.br/ - CONFIRA!








































terça-feira, 9 de junho de 2009

"Não cometamos covardia em relação a nossos atos!
Não os abandonemos depois de fazê-los!
- É indecente o remorso."
Nietzsche. "Crepúsculo dos ídolos", p. 10.

"Que me faz o que já fiz? Há algo mais burro que o remorso: é o contentamento".
Valery

"Nisto, avistaram trinta ou quarenta moinhos de vento dos que há naqueles campos, e assim como D. Quixote os viu, disse ao seu escudeiro
:- A ventura vai guiando as nossas coisas melhor do que pudéramos desejar; pois vê lá, amigo Sancho Pança, aqueles trinta ou pouco mais desaforados gigantes, com os quais penso travar batalha e tirar de todos a vida, com cujos despojos começaremos a enriquecer, pois esta é boa guerra, e é grande serviço de Deus varrer tão má semente da face da terra.
- Que gigantes? - disse Sancho Pança.
- Aqueles que ali vês - respondeu seu amo -, de longos braços, que alguns chegam a tê-los de quase duas léguas.
- Veja vossa mercê - respondeu Sancho - que aqueles que ali aparecem não são gigantes, e sim moinhos de vento, e o que neles parecem braços são as asas, que, empurradas pelo vento, fazem rodar a pedra do moinho.
- Logo se vê - respondeu D. Quixote - que não és versado em coisas de aventuras: são gigantes, sim; e se tens medo aparta-te daqui, e põe-te a rezar no espaço em que vou com eles me bater em fera e desigual batalha.E, isto dizendo, deu de esporas em seu cavalo Rocinante, sem atentar às vozes que o seu escudeiro Sancho lhe dava, advertindo-lhe que sem dúvida alguma eram moinhos de vento, e não gigantes, aqueles que ia acometer.
Mas ele ia tão certo de que eram gigantes, que nem ouvia as vozes do seu escudeiro Sancho, nem via o que eram, embora já estivesse bem perto, antes ia dizendo em altas vozes:
- Non fuxades, cobardes e vis criaturas, que um só cavaleiro é este que vos acomete.
Nisto se levantou um pouce de vento, e as grandes asas começaram a girar, em vista do qual, disse D. Quixote:
- Ainda que movais mais braços que os do gigante Briaréu, haveis de pagar-me.
E, isto dizendo, e encomendando-se de todo coração à sua senhora Dulcinéia, pedindo-lhe que em tal transe o socorresse, bem coberto da sua rodela, com a lança enristada, arremeteu a todo o trote de Rocinante e investiu contra o primeiro moinho que tinha à frente; e ao lhe acertar uma lançada na asa, empurrou-a o vento com tanta fúria que fez a lança em pedaços, levando consigo cavalo e cavaleiro, que foi rodando pelo campo muito estropiado.
Acudiu Sancho Pança ao seu socorro, a todo o correr do seu asno, e ao chegar viu que não se podia mexer: tamanho fora o tombo que dera com ele Rocinante.
- Valha-me Deus! - disse Sancho.
- Eu não disse a vossa mercê que visse bem o que fazia, que não eram senão moinhos de vento, e só o podia ignorar quem tivesse outros na cabeça?
- Cala, amigo Sancho - respondeu D. Quixote -, que as coisas da guerra mais que as outras estão sujeitas a contínua mudança: quanto mais que eu penso, e assim é verdade, que aquele sábio Frestão que me roubou o aposento e os livros tornou esses gigantes em moinhos, para me roubar a glória do seu vencimento, tal e tanta é a inimizade que me tem; mas, ao cabo do cabo, de pouco valerão as suas más artes contra a bondade da minha espada.
- Que Deus faça o que puder - respondeu Sancho Pança."
(D.QUIXOTE)
Ano passado encantei-me ao ler Caligaris.
Após "Cartas a um jovem terapeuta",
"O Conto de Amor" (Companhia das Letras),
onde a ficção mistura-se com a fantasia,
teve um lugar especial na minha vida.

O tema sobre o artesão,
vem quando justamente no atelier,
falamos da arte e do seu "uso".
Releio com alunos um texto de Bernard Leach (1975),
"En busca de la identidad",
tão atual como se hoje fosse escrito.


O luxo e o trabalho do artesão
por Contardo Calligaris * publicado em 31/1/2009.


O novíssimo-rico acumula produtos de luxo
sem acumular a cultura para apreciá-los.

SEBASTIÃO É um adolescente de 13 anos com quem converso com frequência. Gosto dele, e ele tenta gostar de mim, embora, às vezes, eu seja chato.Por exemplo, recentemente, Sebastião me confessou que ele tinha o sonho de sacudir e explodir um magnum de champanhe -isso quando ele ganhar um Grand Prix de Fórmula 1 ou algo equivalente.Eu comentei que, nessa ocasião, ele deveria escolher um espumante de terceira -não pelo custo, mas "por respeito". "Respeito pelo quê?", ele perguntou.Improvisei uma dissertação sobre a "méthode champenoise". Expliquei como, numa região específica da França, as uvas chardonnay e pinot são colhidas, seu mosto é fermentado em tanques e, logo, durante seis anos ou mais, transvasado repetidamente em garrafas, retirando do gargalo, a cada vez, o sedimento e as levuras. Evoquei a vida do viticultor, entre a espera e o cuidado da vinha. Falei da invenção do champanhe, no século 17, por um monge que se chamava Dom Pérignon, e das novidades introduzidas pela senhora Clicquot, no século 19.Em suma, estraguei a festa imaginária de Sebastião só para lhe lembrar que o líquido que ele se propunha despejar era o resultado do trabalho paciente de artesãos obstinados e orgulhosos de sua arte.Chatice, não é? Mas tenho uma desculpa. A conversa com Sebastião acontecia em Milão, enquanto: 1) eu estava lendo o novo livro de Richard Sennett, "The Craftsman" (previsto em março pela Record como "O Artífice"), 2) o centro da cidade, onde a gente estava, era tomado por hordas de compradores de moda e design, entre os quais a maioria absoluta era de "emergentes" de sociedades que, hoje, vivem uma rapidíssima mobilidade social (Rússia e China).Ou seja, eu era circundado por consumidores pouco interessados na qualidade do trabalho embutido nos objetos que eles adquiriam e muito interessados no status que esses objetos e suas marcas podem conferir aos usuários.Ao mesmo tempo, eu era encantado pelo texto de Sennett -seu comovente elogio da perícia que encontra seu maior prêmio no orgulho da obra benfeita.Certo, se nem todo trabalho é alienação, é graças à mestria do artesão, ou seja, à alegria de quem exerce sua destreza, mas é também porque, EM TESE, o usuário do produto artesanal reconhece e admira, no objeto manufaturado, a arte de quem o fabricou.Digo "em tese" porque, de fato, é cada vez menos assim: na extrema insegurança produzida pela rápida mobilidade social ("Será que os outros sabem que eu me enriqueci?"), o novíssimo-rico acumula produtos de luxo (supostamente artesanais) sem ter o tempo de acumular a cultura mínima para apreciá-los. Como assim, que cultura?Quando eu era criança, o senhor Columbaro era o humilde alfaiate da família: ele sabia recortar os ternos velhos do meu pai para confeccionar calças e casacos para nós e, também, ele conseguia dar uma segunda vida a ternos puídos, reconstituindo-os depois de ter virado o tecido pelo avesso. Pois bem, uma vez, o senhor Columbaro me explicou longamente por que um terno de Seville Road cai solto ao redor do corpo (só para começar: a tela interna não é colada, mas costurada com centenas de pontos).Comecei assim a enxergar, nos produtos manufaturados, o esforço e a habilidade de quem os fabrica. É possível que, um dia, o preço de um produto artesanal não seja decidido pela excelência do trabalho do artífice, mas seja apenas função do status que sua posse confere (inevitavelmente) numa sociedade em que o consumo aparente define as diferenças sociais.A partir daquele dia, aos poucos, só sobrarão produtos medíocres, que não dirão nada sobre a perícia do artesão -apenas bradarão o status de seus consumidores.Os leitores de "Gomorra", de Roberto Saviano (ed. Bertrand Brasil), assim como os espectadores do filme homônimo, sabem que já há porões em que se fabricam, ao mesmo tempo, do mesmo jeito e no mesmo molde, a suposta alta-costura e suas "cópias" destinadas a quem só quer passear com uma marca famosa gravada no peito.Qual a relevância disso tudo? Pois é, vou parecer catastrofista, mas penso assim: no dia em que formos incapazes de reconhecer e respeitar, no produto, a excelência do artesão, quando não soubermos mais enxergar o trabalho humano nos objetos que usamos, teremos perdido todo interesse pela vida concreta -inclusive pela nossa própria.Era isso que eu tentava dizer a Sebastião.
CONTARDO CALLIGARIS é psicanalista, doutor em psicologia clínica e colunista da Folha de São Paulo. Italiano, hoje vive e clinica entre Nova York e São Paulo.

O Amor é sempre amor,
Em idioma qualquer.
Gratidão,
Palavra que des(encanta) o amor!

"A gratidão é o ato de reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor etc.
A gratidão é uma emoção que envolve um sentimento de dívida emotiva em direção de outra pessoa; freqüentemente acompanhado por um desejo de agradecê-lo, ou reciprocar para um favor que fizeram por você". (Wikipedia)


A Drummond, apaixonado pela vida!

As sem-razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor
Carlos Drummond de Andrade
(Corpo, in Poesia Completa, Ed. Nova aguilar, 2006)








Trancoso, PS, BAHIA
EL GORDO
"Mata Atlântica"

E como disse Epicuro:
" Se queres enriquecer Pítocles, não lhe acrescentes riquezas: diminui-lhe os desejos".

A João Cabral de Melo Neto,

Os três mal-amados (João Cabral de Melo Neto)

Joaquim:.
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.

O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço.
O amor comeu meus cartões de visita.
O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome..
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas.
O amor comeu metros e metros de gravatas.
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus.
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas.

Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X.
Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia.

Comeu em meus livros de prosa as citações em verso.
Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa.

Bebeu a água dos copos e das quartinhas.
Comeu o pão de propósito escondido.
Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas.

O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras.
Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade.

Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré.
Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.
Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas.

Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam.
Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta.
Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra.

Meu dia e minha noite.
Meu inverno e meu verão.
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Antonio Cícero, pela beleza da poesia!

Eu vi o rei chegar
Eu vi o rei chegar

Um rei assim
Que não escuta bem
Que adora luz
Mas não vê ninguém
Prefere olhar
O horizonte,
o céu Longe daqui é tudo seu...

Eu vi o rei chegar
Eu vi o rei chegar

Seu sangue azul
Ninguém diz de onde vem
De que sertão
De que mar,
que além
E para nós
Ele jamais se abriu
Só uma vez
Quando partiu

Eu vi o rei chegar
Eu vi o rei chegar

Um rei assim
Cultiva solidão
Sombria flor
No coração
E claro é
Que o pêndulo do amor
Às vezes vai
Até a dor

Eu vi o rei chegar
Eu vi o rei chegar

Devo dizer
Que eu não sofri demais
Mas devo dizer
Que eu acordei
Mesmo sem ser
Tudo que eu imaginei
Devo dizer
Que eu o amei

Eu vi o rei chegar
Eu vi o rei chegar
PALAVRA EN(CANTADA), 8.06.2009

A amiga Tania, pela força e entusiasmo das "palavras",
que me levaram hoje ao cinema,
apesar do "tempo ruim".

Impossível esquecer o en(canto) das palavras deste filme,
ou documentário, ou os dois!
Um olhar especial para a relação entre poesia e música.
De Helena Solberg e Marcio Debellian, mais uma obra prima
do cinema brasileiro, que nasce do desejo da diretora de ir às raízes do Brasil.
Palavra en(cantada) deixa-me orgulhosa do Brasil,
faz-me refletir sobre o "doce som" das palavras,
da música e da poesia, que tantas vezes vi
nos olhos portugueses en(cantados).
Brasil,de tantas contradições e encantos,
onde pulsa forte nossa miscigenação,
mistura que faz a beleza,
riqueza do povo,
forte, sedutor, provocante, verdadeiro,
sofrido e tão corajoso, guerreiro,
frágil e de alma esperançosa,
"a solta", com grilhões a romper,
com tantas faces do mundo! (Carmen Bastos)

"Criou-se no Brasil uma situação que não existe em nenhum outro país: uma canção popular fortíssima, que ganhou uma capacidade de falar e cantar para auditórios imensos, e levar para esses auditórios poesia de densa qualidade, com a leveza que a canção tem", observa no filme o músico e professor de literatura da USP, José Miguel Wisnik.

Tarde de junho, vento, chuva, inverno,
não há frio!
Carrego literalmente as "meninas" para o cinema,
presente para mim e para nós,
Esquecemos por pouco tempo a cerâmica, arte mãe, maior,
para ouvir as palavras en(cantadas).









Gleice, Darlene, Silvia e Carmen,
en(cantadas)!










































Pausa para olhar as belíssimas flores,
para fazer do momento especial!
POESIA, sempre!

Em Miguel descobri Sophia.
Caminho inverso,
Iguais aqueles que fazemos na vida,
Frequentemente.
Em Sophia tantas vezes palavras minhas,
Vida, poesia.

"Apesar das ruínas e da morte
Onde sempre acabou cada ilusão
A força dos meus sonhos é tão forte
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos estão vazias"
Sophia de Mello Breyner





Foto antiga encontrada num blog,
falando das Caldas da Rainha
e da Foz do Arelho.
Encantou-me essa visão do passado,
na apanha de ameijoas.

domingo, 7 de junho de 2009

Ditados acabam sempre presentes na minha vida,
muitas vezes encerram sábias palavras:
"Para grande males,grandes remédios"

"E esqueço que amar
É quase uma dor..." (Djavan)

















Encontros E Despedidas

Mande notícias
Do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando...
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero...
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega prá ficar
Tem gente que vai
Prá nunca mais...
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir...
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem
Da partida...
A hora do encontro
É também, despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...
(Milton Nascimento)
VIAGEM
05.06.2009

«A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: “Não há mais que ver”, sabia que não era assim. O fim da viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.»
(J.Saramago/Viagem a Portugal)

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Em momentos assim as palavras desaparecem,
talvez porque fossem outras as que desejassemos dizer.
A partida, o fim, a dor?
O que?
Onde fica o amor, a síntese,
o encontro?
Onde ficam todas as palavras ditas?
Onde ficam todos os momentos tidos?
Onde fico eu?
Onde fica o amor?
Partiu! (Carmen Bastos)














"VAZIO"

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De esperas construímos o amor

De esperas construímos o amor intenso e súbito
que encheu as tuas mãos de sol e a tua boca de beijos.
Em estranhos desencontros nos amamos.
Havia o rio mas sempre ficávamos na margem.
Eu tocava o teu peito e os teus olhos e,
nas minhas mãos,
a tarde projectava as suas grandes sombras
enquanto as gaivotas disputavam sobre a água
talvez um peixe inquieto,
algo que nunca pudemos ver.
As nossas bocas procuravam-se sempre,
ávidas e macias
E por muito tempo permaneciam assim, unidas,
Machucando-se, torturando as nossas línguas quase enlouquecidas.
Depois olhávamo-nos nos olhos
No mais profundo silêncio.
E, sem palavras,
Partíamos com as mãos docemente amarradas
e os corações estoirando uma alegria breve
Quando a noite descia apaixonada
Como o longo beijo da nossa despedida.(Joaquim Pessoa)